Os dados de internação hospitalar por causas obstétricas entre meninas de até 14 anos revelam a extensão alarmante da violência sexual contra crianças e adolescentes na cidade de São Paulo. Cada número representa uma infância interrompida em decorrência de  um crime brutal, que muitas vezes ocorre dentro do próprio lar e é praticado por pessoas conhecidas da vítima.

Os dados de internação hospitalar por causas obstétricas entre meninas de até 14 anos revelam a extensão alarmante da violência sexual contra crianças e adolescentes na cidade de São Paulo. Cada número representa uma infância interrompida em decorrência de  um crime brutal, que muitas vezes ocorre dentro do próprio lar e é praticado por pessoas conhecidas da vítima.

Raça/cor

Os dados sobre internações revelam disparidades preocupantes entre meninas de diferentes marcadores raciais. Meninas pardas foram as mais internadas, com 975 casos (44,3%), seguidas por meninas brancas, com 723 casos (32,8%). Também foram registradas 192 internações de meninas pretas (8,7%). No entanto, chama atenção o número expressivo de casos em que a raça/cor foi marcada como desconhecida: 312 registros (14,2%).

Essa lacuna é alarmante e pode estar relacionada à falta de letramento racial por parte de profissionais da saúde, que muitas vezes negligenciam a importância de identificar corretamente a raça/cor das pacientes.

A ausência de dados confiáveis sobre raça e cor compromete gravemente a formulação e implementação de políticas públicas eficazes no enfrentamento do racismo estrutural. Sem esses dados, torna-se impossível compreender a dimensão das desigualdades raciais na saúde e, consequentemente, elaborar ações que garantam equidade no cuidado.

O hiato na coleta de dados é um sintoma evidente do racismo estrutural,  em pleno movimento. O racismo estrutural se refere ao funcionamento da sociedade de forma a reproduzir e perpetuar desigualdades raciais, mesmo sem a intenção explícita de indivíduos. Ele se manifesta em políticas, práticas e normas institucionais que sistematicamente desfavorecem grupos raciais específicos.

Se os profissionais de saúde não são devidamente treinados para reconhecer a importância da identificação racial, eles tendem a negligenciar essa informação na análise de dados. Por isso, é fundamental investir na formação antirracista dos profissionais da saúde e reforçar a importância da coleta qualificada de dados como ferramenta indispensável na luta por justiça social.

Quando a raça/cor é marcada como desconhecida, o sistema de saúde falha em:

  • Visibilizar as desigualdades: Sem dados precisos, é impossível dimensionar o impacto do racismo nas condições de saúde de diferentes grupos raciais. As meninas pretas e pardas, por exemplo, podem enfrentar barreiras de acesso, diagnósticos tardios ou tratamentos inadequados devido a preconceitos implícitos ou explícitos no sistema. A invisibilidade desses dados perpetua a invisibilidade dessas experiências.
  • Formular políticas eficazes: A ausência de informações confiáveis sobre raça e cor é um obstáculo gigantesco para a criação de políticas públicas equitativas. Como combater o racismo na saúde se não sabemos onde ele mais atinge ? As políticas se tornam inaptas a perceber  as necessidades específicas de cada grupo, falhando em abordar as raízes das disparidades.
  • Responsabilizar o sistema: Quando os dados raciais são omitidos, o sistema se exime de responsabilidade. É mais difícil apontar e corrigir falhas quando não há registros que comprovem a extensão do problema. Essa falta de responsabilização contribui para a manutenção do status quo das desigualdades raciais.

Os dados de internação hospitalar por causas obstétricas entre meninas de até 14 anos revelam a extensão alarmante da violência sexual contra crianças e adolescentes na cidade de São Paulo. Cada número representa uma infância interrompida em decorrência de  um crime brutal, que muitas vezes ocorre dentro do próprio lar e é praticado por pessoas conhecidas da vítima.

Raça/cor

Os dados sobre internações revelam disparidades preocupantes entre meninas de diferentes marcadores raciais. Meninas pardas foram as mais internadas, com 975 casos (44,3%), seguidas por meninas brancas, com 723 casos (32,8%). Também foram registradas 192 internações de meninas pretas (8,7%). No entanto, chama atenção o número expressivo de casos em que a raça/cor foi marcada como desconhecida: 312 registros (14,2%).

Essa lacuna é alarmante e pode estar relacionada à falta de letramento racial por parte de profissionais da saúde, que muitas vezes negligenciam a importância de identificar corretamente a raça/cor das pacientes.

A ausência de dados confiáveis sobre raça e cor compromete gravemente a formulação e implementação de políticas públicas eficazes no enfrentamento do racismo estrutural. Sem esses dados, torna-se impossível compreender a dimensão das desigualdades raciais na saúde e, consequentemente, elaborar ações que garantam equidade no cuidado.

O hiato na coleta de dados é um sintoma evidente do racismo estrutural,  em pleno movimento. O racismo estrutural se refere ao funcionamento da sociedade de forma a reproduzir e perpetuar desigualdades raciais, mesmo sem a intenção explícita de indivíduos. Ele se manifesta em políticas, práticas e normas institucionais que sistematicamente desfavorecem grupos raciais específicos.

Se os profissionais de saúde não são devidamente treinados para reconhecer a importância da identificação racial, eles tendem a negligenciar essa informação na análise de dados. Por isso, é fundamental investir na formação antirracista dos profissionais da saúde e reforçar a importância da coleta qualificada de dados como ferramenta indispensável na luta por justiça social.

Quando a raça/cor é marcada como desconhecida, o sistema de saúde falha em:

  • Visibilizar as desigualdades: Sem dados precisos, é impossível dimensionar o impacto do racismo nas condições de saúde de diferentes grupos raciais. As meninas pretas e pardas, por exemplo, podem enfrentar barreiras de acesso, diagnósticos tardios ou tratamentos inadequados devido a preconceitos implícitos ou explícitos no sistema. A invisibilidade desses dados perpetua a invisibilidade dessas experiências.
  • Formular políticas eficazes: A ausência de informações confiáveis sobre raça e cor é um obstáculo gigantesco para a criação de políticas públicas equitativas. Como combater o racismo na saúde se não sabemos onde ele mais atinge ? As políticas se tornam inaptas a perceber  as necessidades específicas de cada grupo, falhando em abordar as raízes das disparidades.
  • Responsabilizar o sistema: Quando os dados raciais são omitidos, o sistema se exime de responsabilidade. É mais difícil apontar e corrigir falhas quando não há registros que comprovem a extensão do problema. Essa falta de responsabilização contribui para a manutenção do status quo das desigualdades raciais.

A distribuição regional: onde essa violência é mais numerosa?

A violência sexual seguida de gravidez infantil ocorre em toda a cidade de São Paulo, mas os números variam entre as regiões, com destaque para zonas como Sul, Leste e Norte.

  • Zona Norte: 462 casos (20,92%)
  • Zona Sul: 759 casos (34,4%)
  • Zona Leste: 675 casos (30,6%)
  • Zona Oeste: 95 casos (4,3%)
  • Zona Central: 217 casos (9,8%)

Zona Norte: 462 casos (20,92%)

  • Pardas: 167 internações de crianças com menos de 14 anos;
  • Brancas: 183 internações de crianças com menos de 14 anos;
  • Pretas: 33 internações de crianças com menos de 14 anos;
  • Etnia Desconhecida: 77 internações de crianças com menos de 14 anos.

Dois dos sete serviços analisados marcaram mais de 50% dos casos como etnia desconhecida, sendo que o Hospital Geral de Taipas - Katia de Souza Rodrigues marcou 65,7% dos casos como etnia desconhecida e o Hospital Geral de Vila Penteado marcou 100% dos casos como etnia desconhecida.

Zona Sul: 759 casos (34,4%)

  • Pardas: 379 internações de crianças com menos de 14 anos;
  • Brancas: 228 internações de crianças com menos de 14 anos;
  • Pretas: 109 internações de crianças com menos de 14 anos;
  • Etnia Desconhecida: 41 internações de crianças com menos de 14 anos.

Nenhum dos serviços analisados marcou mais de 50% dos casos como etnia desconhecida.

Zona Leste: 675 casos (30,6%)

internações de crianças com menos de 14 anos

  • Pardas: 301 internações de crianças com menos de 14 anos.
  • Brancas: 190 internações de crianças com menos de 14 anos.
  • Pretas: 36 internações de crianças com menos de 14 anos.
  • Etnia Desconhecidas: 137 internações de crianças com menos de 14 anos.

Quatro dos onze serviços analisados marcaram mais de 50% dos casos como etnia desconhecida, conforme a seguinte distribuição:

  • Hospital Municipal Prof. Dr. Waldomiro de Paula: marcou 55,84% dos casos como etnia desconhecida;
  • Hospital Municipal Prof. Dr. Alípio Corrêa Netto - Ermelino Matarazzo: marcou 62,96% dos casos como etnia desconhecida;
  • Hospital Municipal Tide Setúbal: marcou 57,5% dos casos como etnia desconhecida;
  • Hospital Municipal Dr. Ignácio Proença de Gouvêa: marcou 73,08% como etnia desconhecida.

Zona Oeste: 675 casos (30,6%)

  • Pardas: 50 internações de crianças com menos de 14 anos;
  • Brancas: 54 internações de crianças com menos de 14 anos;
  • Pretas: 2 internações de crianças com menos de 14 anos;
  • Etnia Desconhecidas: 84 internações de crianças com menos de 14 anos.

O Hospital Municipal e Maternidade Prof. Mario Degni, um dos dois serviços analisados na região, marcou 75% dos casos como etnia desconhecida.

Zona Central: 217 casos (9,8%)

  • Pardas: 103 internações de crianças com menos de 14 anos;
  • Brancas: 80 internações de crianças com menos de 14 anos;
  • Pretas: 18 internações de crianças com menos de 14 anos;
  • Etnia Desconhecidas: 15 internações de crianças com menos de 14 anos.


O Hospital do Servidor Público Municipal, um dos cinco serviços analisados na região, marcou 100% dos casos como etnia desconhecida, sendo o único da região a marcar mais de 50% nessa categoria.

A distribuição regional: onde essa violência é mais numerosa?

A violência sexual seguida de gravidez infantil ocorre em toda a cidade de São Paulo, mas os números variam entre as regiões, com destaque para zonas como Sul, Leste e Norte.

  • Zona Norte: 462 casos (20,92%)
  • Zona Sul: 759 casos (34,4%)
  • Zona Leste: 675 casos (30,6%)
  • Zona Oeste: 95 casos (4,3%)
  • Zona Central: 217 casos (9,8%)

Zona Norte: 462 casos (20,92%)

  • Pardas: 167 internações de crianças com menos de 14 anos;
  • Brancas: 183 internações de crianças com menos de 14 anos;
  • Pretas: 33 internações de crianças com menos de 14 anos;
  • Etnia Desconhecida: 77 internações de crianças com menos de 14 anos.

Dois dos sete serviços analisados marcaram mais de 50% dos casos como etnia desconhecida, sendo que o Hospital Geral de Taipas - Katia de Souza Rodrigues marcou 65,7% dos casos como etnia desconhecida e o Hospital Geral de Vila Penteado marcou 100% dos casos como etnia desconhecida.

Zona Sul: 759 casos (34,4%)

  • Pardas: 379 internações de crianças com menos de 14 anos;
  • Brancas: 228 internações de crianças com menos de 14 anos;
  • Pretas: 109 internações de crianças com menos de 14 anos;
  • Etnia Desconhecida: 41 internações de crianças com menos de 14 anos.

Nenhum dos serviços analisados marcou mais de 50% dos casos como etnia desconhecida.

Zona Leste: 675 casos (30,6%)

internações de crianças com menos de 14 anos

  • Pardas: 301 internações de crianças com menos de 14 anos.
  • Brancas: 190 internações de crianças com menos de 14 anos.
  • Pretas: 36 internações de crianças com menos de 14 anos.
  • Etnia Desconhecidas: 137 internações de crianças com menos de 14 anos.

Quatro dos onze serviços analisados marcaram mais de 50% dos casos como etnia desconhecida, conforme a seguinte distribuição:

  • Hospital Municipal Prof. Dr. Waldomiro de Paula: marcou 55,84% dos casos como etnia desconhecida;
  • Hospital Municipal Prof. Dr. Alípio Corrêa Netto - Ermelino Matarazzo: marcou 62,96% dos casos como etnia desconhecida;
  • Hospital Municipal Tide Setúbal: marcou 57,5% dos casos como etnia desconhecida;
  • Hospital Municipal Dr. Ignácio Proença de Gouvêa: marcou 73,08% como etnia desconhecida.

Zona Oeste: 675 casos (30,6%)

  • Pardas: 50 internações de crianças com menos de 14 anos;
  • Brancas: 54 internações de crianças com menos de 14 anos;
  • Pretas: 2 internações de crianças com menos de 14 anos;
  • Etnia Desconhecidas: 84 internações de crianças com menos de 14 anos.

O Hospital Municipal e Maternidade Prof. Mario Degni, um dos dois serviços analisados na região, marcou 75% dos casos como etnia desconhecida.

Zona Central: 217 casos (9,8%)

  • Pardas: 103 internações de crianças com menos de 14 anos;
  • Brancas: 80 internações de crianças com menos de 14 anos;
  • Pretas: 18 internações de crianças com menos de 14 anos;
  • Etnia Desconhecidas: 15 internações de crianças com menos de 14 anos.


O Hospital do Servidor Público Municipal, um dos cinco serviços analisados na região, marcou 100% dos casos como etnia desconhecida, sendo o único da região a marcar mais de 50% nessa categoria.

Território

Os 5 territórios com maior número de internações são:

  • Vila Nova Cachoeirinha: 190 internações
  • Campo Limpo: 147 internações
  • M Boi Mirim: 147 internações
  • Cidade Tiradentes: 129 internações
  • Interlagos: 115 internações
  • Sapopemba: 93 internações

Os 5 hospitais e maternidades com maior número de internações são:

  • Hospital Municipal e Maternidade-Escola Mário de Moraes Altenfelder Silva - Vila Nova Cachoeirinha: 190 internações; 
  • Hospital Municipal Fernando Mauro Pires da Rocha: 147 internações; 
  • Hospital Municipal Dr. Moysés Deutsch - M’Boi Mirim: 147 internações; 
  • Hospital Municipal Cidade Tiradentes Carmen Prudente: 129 internações; 
  • Hospital Maternidade Interlagos: 115 internações; e 
  • Hospital Estadual Sapopemba: 93 internações

Causas de internação

No período analisado, compreendido entre os anos de 2019 e 2024, foram registradas 36 internações por aborto com indicação médica ou legal de meninas entre 12 e 14 anos. No mesmo intervalo, houve o registro de 1.765 nascidos vivos de meninas entre 11 e 14 anos.

Entre as internações relacionadas ao parto, 61% corresponderam a partos normais, dos quais 19% foram prematuros. Os partos normais de alto risco representaram 11% do total e foram associados a diagnósticos como pré-eclâmpsia e doenças metabólicas, endócrinas e nutricionais desenvolvidas em decorrência da gestação.

As cirurgias cesarianas corresponderam a 10% das internações. Destas, cerca de 21% foram realizadas por sofrimento fetal, e 10% devido à imaturidade fisiológica da criança ou adolescente para levar a gestação a termo ou realizar o parto — como em casos de insuficiência de crescimento fetal ou desproporção feto-pélvica. As cesarianas em gestações de alto risco somaram 6%.

Houve ainda 23 internações em unidades de urgência ou urgência pediátrica para o atendimento de complicações relacionadas ao abortamento (incluindo gestação ectópica e mola hidatiforme), complicações gestacionais, pós-parto ou mastite.

As internações decorrentes de infecção puerperal, aborto incompleto, complicações pós-abortamento e partos prematuros representaram 8,3% do total.

Dois casos específicos de meninas de 14 anos merecem destaque: uma histerectomia por aborto retido e uma cesariana agendada com realização de laqueadura tubária. A Lei nº 14.443/2022, que alterou a Lei do Planejamento Familiar, estabelece que a mulher pode optar pela laqueadura durante o parto, desde que cumpra os critérios legais — ser maior de 21 anos e ter pelo menos dois filhos vivos. No entanto, a cesariana deve ter indicação médica, e a paciente deve ter sido devidamente informada e manifestado sua intenção com no mínimo 60 dias de antecedência.

Entre as 1.008 meninas que tiveram parto normal no período, 828 tinham 14 anos, 105 tinham 13 anos, 22 tinham 12 anos, e duas tinham 9 e 11 anos, respectivamente, no momento do parto.